Geórgia registra novos protestos após aprovação de lei que a afasta da UE
O Parlamento da Geórgia derrubou nesta terça-feira (28) o veto da presidente pró-Ocidente e aprovou uma lei sobre "influência estrangeira" que voltou a levar às ruas milhares de manifestantes contrários ao texto, criticado também por Estados Unidos e União Europeia.
Os deputados do partido Sonho Georgiano, do primeiro-ministro Irakli Kobakhidze, que são maioria na casa, conseguiram a aprovação da lei por 84 votos a 4, derrubando o veto de 18 de maio da presidente, Salome Zurabishvili. A maioria dos deputados opositores se retirou do local antes da votação, segundo jornalistas da AFP.
Os Estados Unidos e a União Europeia criticaram a lei, chamada pela oposição do país do Cáucaso de "lei russa", devido à sua semelhança com a legislação sobre os "agentes estrangeiros" em vigor na Rússia desde 2012 para reprimir vozes dissidentes.
Por meio do porta-voz do Departamento de Estado, Washington condenou a votação, por considerar que ela ignora "as aspirações euro-atlânticas do povo georgiano".
O alto representante de política externa da União Europeia (UE), Josep Borrell, lamentou a derrubada do veto presidencial e pediu que as autoridades georgianas invertam "essa tendência" e retornem "com fimeza ao caminho da UE".
A UE concedeu à Geórgia a condição de país candidato a integrar o bloco, mas a nova lei "é contrária aos princípios e valores centrais" do bloco, advertiu Borrell.
- Frustração -
Após a divulgação do resultado da votação, milhares de manifestantes começaram a se reunir em frente ao Parlamento, em Tbilisi, muitos deles agitando bandeiras georgianas e europeias.
Durante o protesto, foram executados os Hinos da Geórgia e da União Europeia, e Zurabishvili se dirigiu à multidão por videoconferência.
"Hoje vocês estão com raiva, não é verdade? Fiquem com raiva, mas vamos trabalhar. O trabalho é que temos que nos preparar, em primeiro lugar, para um verdadeiro referendo", disse a presidente, referindo-se às eleições legislativas de outubro.
"Queremos um futuro europeu ou a escravidão russa? Oitenta e quatro homens não podem decidir isso, nós sim, todos juntos", acrescentou.
A lei, que ainda não entrou em vigor, estipula que ONGs e organizações de mídia que recebam mais de 20% de seu financiamento do exterior se registrem como entidades que servem "aos interesses de uma potência estrangeira".
O projeto foi aprovado pelo Parlamento em 14 de maio, antes do veto apresentado pela presidente pró-Europa, confrontada com o partido governante da ex-república soviética. Nesse dia, milhares de pessoas foram às ruas para manifestar sua rejeição à lei, assim como nas semanas anteriores.
O partido Sonho Georgiano havia tentado aprovar essa lei no começo de 2023, mas não conseguiu, devido aos protestos em massa.
"Esperávamos este resultado, mas estou com muita raiva, muito frustrada. O mais importante, agora, é não perder a esperança", disse a manifestante Lizi Kenshoshvili.
A adesão à UE está consagrada na Constituição do país e tem o apoio de mais de 80% da população, segundo pesquisas.
Embora o partido governante, no poder desde 2012, apoie formalmente a adesão à UE e à Otan, ele multiplicou as medidas que aproximam o país de Moscou, sobretudo desde o início da guerra na Ucrânia.
G.Tara--BD