Graves incidentes em frente ao Congresso argentino antes de votação crucial para Milei
Graves incidentes entre manifestantes e policiais em frente ao Congresso argentino deixaram vários feridos e carros incendiados nesta quarta-feira (12), enquanto o Senado debate um pacote de reformas crucial para o presidente ultraliberal Javier Milei.
Os distúrbios começaram quando os manifestantes tentaram passar pelo sistema de barricadas montado para isolar o Congresso e foram repelidos com gás lacrimogêneo, balas de borracha e jatos de caminhões-pipa.
Os manifestantes reagiram atirando pedras nos policiais e pelo menos dois carros foram incendiados, incluindo um da emissora de rádio Cadena 3. Questionada pela AFP, a polícia não forneceu um balanço de feridos ou detidos.
Pelo menos cinco deputados foram afetados pelo gás lacrimogêneo e precisaram ser hospitalizados, enquanto dezenas de manifestantes igualmente afetados pelos gases receberam assistência no local, segundo parlamentares e uma ONG.
Dentro do Congresso estava em debate a Lei de Bases, um passo crucial para Milei, que após seis meses de governo ainda não conseguiu apoio legislativo.
"É um dia muito violento, em 40 anos de democracia nunca vi uma repressão assim", disse a deputada opositora Cecilia Moreau à AFP, confirmando que cinco colegas que acompanhavam a manifestação foram atingidos pelos gases.
"Roberto María La Cruz Gómez, sou peronista e vim impedir que a Lei de Bases seja aprovada, porque sou argentino!", gritou um jovem, enquanto era detido por policiais federais.
Uma comissão de senadores intercedeu junto às forças de segurança para tentar acalmar os ânimos. O debate deve se estender até a madrugada desta quinta-feira.
O Senado discute a Lei de Bases, que em seus 238 artigos inclui incentivos a grandes investimentos por 30 anos, uma reforma trabalhista, privatizações e uma polêmica delegação de poderes legislativos ao presidente ultraliberal, que necessita de apoio dos congressistas após não conseguir aprovar uma única lei em seis meses de governo.
A reforma trabalhista em particular "retorna ao século passado, quando o funcionário não tinha nenhum direito trabalhista; não resiste à análise constitucional e vai gerar conflito e litigiosidade", acusou o senador opositor Mariano Recalde.
A lei já havia sido aprovada pela Câmara dos Deputados em abril. Se os senadores o ratificarem, o texto retornará à Câmara Baixa para sanção definitiva.
"O esforço dos argentinos nestes meses é colossal, esperamos (com esta lei) lançar as bases do progresso", disse em seu discurso de abertura o senador governista Bartolomé Abdala.
- Recessão -
Milei, que viaja para a Itália na noite desta quarta-feira para participar da cúpula do G7, defendeu seu pacote de reformas: "passaram seis meses discutindo a Lei de Bases, que teria feito o ajuste ser menos doloroso, mas para a política isso não importa".
A via legislativa tem sido difícil para o pequeno partido Liberdade Avança, de Milei, que é minoritário em ambas as câmaras.
"Desde o FMI até os investidores estrangeiros, muitos atores dizem que, para que a proposta de Milei seja crível, são necessárias leis do Congresso, são necessários acordos, é necessário um Estado mais ou menos funcionando", comentou à AFP Iván Schuliaquer, cientista político da Universidade de San Martín.
O debate ocorre em um contexto de recessão econômica, com queda na atividade industrial e no consumo, milhares de demissões e uma inflação em desaceleração, mas ainda em torno de 300% ao ano.
O peso do ajuste recaiu principalmente sobre as aposentadorias e sobre o poder de compra dos salários em um país onde metade da população está em situação de pobreza.
- "Ninho de ratos" -
O projeto naufragou em sua primeira votação na Câmara dos Deputados e o governo fez muitas concessões para reerguê-lo, reduzindo seu conteúdo original de 600 artigos para cerca de um terço.
Em meio aos conflitos, o presidente anarcocapitalista chamou o Congresso de "ninho de ratos", entre outros insultos contra legisladores e governadores.
Se o pacote for rejeitado, Milei terá que esperar um ano para tentar aprová-lo novamente, uma possibilidade que o enfraqueceria politicamente em meio a vários desafios.
Em particular, o gigantesco Ministério de Capital Humano, que reúne quatro pastas além da administração da seguridade social, está sob fogo após a descoberta de 5.000 toneladas de alimentos que estavam armazenados, enquanto o governo se recusava a enviar comida para as cozinhas comunitárias.
O Senado também debaterá uma reforma fiscal paralela, que inclui a reintrodução de um imposto sobre ganhos para tributar salários e aposentadorias.
F.Mahajan--BD