Bombardeio mortal atinge escola em Gaza e milhares de palestinos fogem dos combates
Um bombardeio mortal atingiu nesta terça-feira (9) uma escola utilizada como refúgio no sul da Faixa de Gaza, enquanto no norte do território palestino milhares de pessoas fugiram dos intensos combates entre soldados israelenses e milicianos do Hamas.
Uma fonte do hospital Naser em Khan Yunis relatou que um bombardeio contra a escola Al Awada em Abasan deixou 29 mortos, revisando para cima um balanço anterior.
O Exército israelense disse que verifica os relatos, depois que suas tropas admitiram ter bombardeado outras três escolas desde sábado, em ataques que deixaram pelo menos 20 mortos, segundo autoridades deste território governado pelo Hamas.
Israel defendeu que os bombardeios tinham como alvo milicianos que estavam supostamente escondidos nas escolas.
Os soldados israelenses intensificaram a ofensiva no norte da Faixa de Gaza, antes de ambas as partes retomarem as negociações indiretas no Catar na quarta-feira para alcançar um cessar-fogo e a libertação de reféns, após mais de nove meses de guerra.
Os chefes da CIA, William Burns, e dos serviços de inteligência israelenses, David Barnea, se encontrarão em Doha com o primeiro-ministro do Catar.
Burns se reuniu nesta no Cairo com o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi, mediador no conflito junto com Catar e Estados Unidos.
O Hamas suavizou suas exigências, mas acusou na segunda-feira o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de bloquear as negociações.
"Os massacres, assassinatos e deslocamentos" na Cidade de Gaza as "consequências catastróficas" dos eventos atuais poderiam "devolver as negociações ao ponto de partida", alertou o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh.
O Exército israelense lançou uma operação terrestre no bairro de Shujaiya, no leste da Cidade de Gaza, em 27 de junho, antes de estender sua ofensiva às áreas centrais, onde "dezenas de milhares de pessoas" receberam ordens de evacuação, segundo a ONU.
O braço armado do Hamas, as brigadas Ezedin al-Qasam, afirmou que os combates na Cidade de Gaza foram os "mais intensos em vários meses".
- "Campanha de fome direcionada" -
A Agência de Direitos Humanos da ONU declarou estar "consternada" com as ordens de evacuação, que obrigaram os deslocados a fugir para áreas no oeste e no sul da cidade, também alvos de ataques e onde "civis estão sendo mortos".
“A primeira pergunta que fazemos todas as manhãs é a mesma: o que vamos comer hoje?”, relatou na segunda-feira Maysa Saleh, representante da ONG Norwegian Refugee Council.
Especialistas da ONU acusaram Israel de realizar uma “campanha de fome direcionada”, resultando na morte de crianças na Faixa de Gaza.
“Trinta e quatro palestinos morreram de desnutrição desde 7 de outubro, a maioria deles crianças”, acrescentaram os especialistas, nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, mas que não falam em nome da ONU.
A organização internacional não declarou oficialmente fome em Gaza. Mas para estes especialistas, incluindo para o relator especial da ONU sobre o direito à alimentação, Michael Fakhri, “não há dúvida” de que a fome se espalhou do norte de Gaza para o centro e o sul do território.
Yusef Jaber, um deslocado de 24 anos que se refugiou no acampamento de Jabalyia, relatou que a população sofre de uma "verdadeira fome".
"Não temos mais do que farinha e latas (...) não temos verduras para cozinhar nem carne para comer", lamentou.
- Bateria de foguetes lançada do Líbano -
A guerra eclodiu em 7 de outubro, quando comandos islamistas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um levantamento da AFP com base em dados oficiais israelenses.
O Exército israelense estima que 116 pessoas permaneçam em cativeiro em Gaza, incluindo 42 que estariam mortas.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva contra Gaza que já matou 38.243 pessoas, também civis em sua maioria, de acordo com o Ministério da Saúde do território palestino.
A guerra provocou ainda um aumento da violência na Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967, onde a Autoridade Palestina relatou que um menor de 13 anos morreu por disparos das tropas israelenses em Ramallah.
Além disso, crescem os temores de que o conflito se espalhe pelo resto do Oriente Médio. A polícia israelense relatou nesta terça que duas pessoas morreram nas Colinas de Golã, um território sírio ocupado e anexado por Israel, devido a uma bateria de foguetes disparada do Líbano.
A.Zacharia--BD