Premiê francês supera moção de censura graças à abstenção dos socialistas
O primeiro-ministro francês, o centrista François Bayrou, superou nesta quinta-feira (16) sua primeira moção de censura um mês após assumir o cargo, depois de negociar a abstenção dos socialistas, o que dividiu a oposição de esquerda.
A moção de censura, defendida pelo partido A França Insubmissa (LFI, esquerda radical), aliado dos socialistas na coalizão Nova Frente Popular (NFP), obteve apenas 131 votos favoráveis dos 575 deputados da Assembleia Nacional (Câmara baixa).
"Isso não significa que confiemos em vocês. Mas optamos por não praticar a política do pior", que poderia levar "à chegada da extrema direita", assegurou ao governo de centro-direita o líder socialista, Olivier Faure.
A votação ocorreu dois dias após Bayrou, de 73 anos, apresentar seu programa político, abrindo a possibilidade de renegociar a impopular reforma da Previdência aprovada em 2023 e defendendo cortes no "déficit excessivo".
Grande parte da oposição na Assembleia Nacional, onde o governo não possui maioria absoluta, criticou o discurso, mas a rejeição da extrema direita em votar a moção de censura já dificultava sua eventual aprovação.
O deputado de extrema direita Jean-Philippe Tanguy advertiu, no entanto, que "o momento da verdade" chegará quando o projeto de orçamento para 2025 do novo governo for votado, representando o primeiro teste crucial para Bayrou.
O alerta não é irrelevante. Seu breve antecessor no cargo, o conservador Michel Barnier, foi derrubado em dezembro, quando a extrema direita somou seus votos a uma moção de censura da esquerda após tentar negociar o orçamento com os ultradireitistas.
Bayrou, um aliado histórico do presidente de centro-direita Emmanuel Macron, preferiu, em contrapartida, negociar com os socialistas para evitar uma moção de censura e, nesta quinta-feira, confirmou por carta várias concessões para convencê-los de vez.
Entre essas concessões estão a manutenção de um imposto temporário sobre grandes fortunas, a renúncia à eliminação de postos de trabalho na Educação e o aumento dos gastos com saúde, segundo a carta.
"Outro caminho se desenha, com dificuldade, muito trabalho, discussões e negociações", celebrou o primeiro-ministro.
Contudo, a abstenção dos socialistas irritou seus aliados da LFI. "O PS rompe o NFP. Mas capitula sozinho. Os outros três grupos votam a censura", afirmou seu líder Jean-Luc Mélenchon, referindo-se também a ecologistas e comunistas.
Macron mergulhou a França em uma profunda crise política em 2024 com a antecipação inesperada das eleições, que resultou em uma Assembleia Nacional sem maiorias claras e dividida em três blocos: esquerda, centro-direita e extrema direita.
O presidente, cujo mandato termina em 2027, não pode convocar novas eleições legislativas antes de julho.
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K.Williams--BD